O ano de 1870 marca o início da crise do Império, que se prolongará até
a proclamação da República, em 1889.
Em verdade, no exato momento em que o tráfico negreiro foi proibido,
1850, já se poderia adivinhar as dificuldades para o regime, cuja finalidade
principal era manter a escravidão.
Ocorre que o sistema escravista impede o crescimento vegetativo da
população cativa. Escravo sempre morre mais do que nasce.
Portanto, o sistema escravista moderno era alimentado pelo tráfico
negreiro, deixando de se reproduzir com a sua extinção.
Vislumbra-se, pois, a médio prazo o fim da escravidão.
A aristocracia tanto enxergou isso, que no mesmo ano de 1850 aprovou
a Lei de Terras, que estabelecia que novas propriedades de terras só
poderiam ser adquiridas pela compra.
Essa forma, inédita no Brasil, onde desde as Capitanias Hereditárias, o
acesso à propriedade da terra se dava pela doação ou pela posse violenta,
visava garantir que, no caso de abolição da escravatura, os ex-escravos não
poderiam tornar-se proprietários. Previne-se uma eventual reforma agrária.
Por outro lado, a expansão da cafeicultura, passando do Vale do
Paraíba, onde continuava se baseando no trabalho escravo, para o chamado
Oeste Paulista, obrigava a que se pensasse em formas de complementação da
mão-de-obra escrava.
Muitas serão as discussões e experiências, com diferentes resultados,
mas a opção final se dará em torno da imigração européia.
É que o imigrante branco europeu, atendia a um ideal racista, esposado
pela elite econômica e também pelo que se poderia chamar elite cultural, que
atribuía nosso atraso à composição étnica inferior de nosso povo.
Esse arremedo de “darwinismo”, atribuía o progresso da Europa à
superioridade do homem branco, na escala da evolução da espécie humana.
Decididos pela imigração européia como solução para as necessidades
de complementação da mão-de-obra necessária à expansão cafeeira, resta
resolver o problema do financiamento da imigração.
É aí que se dá o nó entre a expansão econômica e a questão do poder
político.
O Império, escravista e centralizador, era um regime hegemonizado pela
aristocracia rural tradicional, especialmente nordestina.
Essa classe controlava as principais decisões políticas e econômicas do
regime, ainda que estivesse em decadência econômica, sobretudo se
comparada à ascendente burguesia agrária cafeicultora paulista.
Sendo assim, haverá o conflito entre o centralismo do Império, que torna
insatisfatória a imigração, e a descentralização, a autonomia, desejada pelos
cafeicultores, para agilizar a imigração.
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